domingo, janeiro 10, 2010

MEIOS E MODOS NA ABERTURA ARTÍSTICA


Inauguração no dia
21 de Janeiro 2010
no CASUAL LOUNGE CAFFÉ pelas 19:00
Rua Bartolomeu Dias, 148 B. Tel.: 213 019 024

"olhos na tempestade I" 50 x 50 cm
tecnica mista - obra única
daniela rocha


MEIOS E MODOS NA ABERTURA ARTÍSTICA

Miguel Baganha, corroborando as belíssimas foto-pictóricas de Daniela Rocha, envereda pelos caminhos da mesma aprendizagem da hibridez no século XX. É como se fizesse deslizar uma janela (cortada) sobre determinada composição geral, criando sucessivos enquadramentos e diferenças de escala, um pouco como se nos dissesse o que a prótese da teleobjectiva também realiza: e assim, o que era resto de paisagem urbana, passa ao domínio do fragmento, de novos conteúdos e novas indicações sobre as coisas, sobre a construção recuperada, sobre bocados de um mundo que se esvazia.
Daniela Rocha, com bases fotográficas fragmentárias, ultrapassa o mero domínio da representação sequenciando parte e movimentos de um todo pressentido, por vezes acordado, quase sempre entrosado por cortes ou ligações que reabrem o sentido das coisas e do mundo que elas lembram. O close-up sobre os olhos de uma boneca, ao mesmo tempo mortos e vivos, sonham assim o que atravessa a nossa consciência, a nossa mente, um imaginário feito de diluídos sobressaltos, um vento nas àrvores, uma referência breve (acantonada em baixo) à representação clássica, embora já tocada pelo efeito do sonho e do fantástico. " A Queda", série baseada em módulos cúbicos, atapetados de fungos ou pequenos fósseis do princípio dos tempos, propõe o decurso de minutos ou séculos pelo despendimento cadenciado das peças. Este projecto, e este tipo de objectos, refaz-se porventura com maior saber, em "Corpo e Sonho", em "Olhos na Tempestade". Mas o avanço de Daniela no campo exemplificado torna-se, de cada vez e rapidamente, mais profundo: "Memória Encoberta" confronta-nos com rêctangulos alinhados e integrantes de imagens que se intemporalizam, sombras e muros de colonizações sem nome, a mulher reinventada dos anos 30 ou a estátua grega assim trajando, além de um olhar, animal ou humano, que vem a seguir e do qual se desprende a extrema melancolia diante dos genocídios contemporâneos. E a própria face de "Criança e Mantos" nos fala do mesmo destino, a máscara da inocência entre muitos frames das rendas com que sonhamos, mantos de terra, o holocausto sempre, passagens estreitas, a carta que encerra parte das nossas catástrofes e nos faz pressentir uma lágrima na face impensável, lágrima seca, tudo a presumir um futuro álbum de família, páginas e páginas passadas, quando a ressonância dos ecos houver terminado.

Rocha de Sousa
2010

"transições do olhar II" 100 x 73 cm
acrílico s/tela-2009
miguel baganha