segunda-feira, setembro 28, 2015

DE MALANGATANA NGWENYA PARA BELA ROCHA





Não me recordo de nenhuma visita, das inumeras que fiz em diferentes lugares onde a encontrei, que não se escancarasse gargalhando. Este gesto lindo e contagiante, muitas vezes era longo. Outras, não durava muito tempo sem inundar seus olhos com "orvalho" a que me acustumara a ver sobre as folhas das árvores, quando de madrugada ia aos juncos na minha pequena aldeina de Matalana. Mas esta Isabel Bela-bela que às vezes parecia frágil, é possuidora duma riqueza ímpar: a força! Mulher forte, decidida, que não aceita que lhe vedem o caminho.
Isabel Rocha de Sousa é uma fonte de polivalências.
Quando menos se espera, pega no seu corpo como pluma fazendo-se bailar como se algum instrumento tocasse, dando a dica e o devido ritmo. Irrequieta, inventa passos duma coreografia indisciplinada e duma plumosidade à maneira de quem está possuída de espíritos. Quando se põe de bicos dos pés e como que flácida, seus braços plumosam em belas fantasias. O extâse toma lugar. Quando o extasismo se abala, seus olhos se campanulam entrando numa pudiquez  não menos comum nela. Lentamente esse momento poético se desfaz como um manto de novoeiro fugindo do sol. Depois deste momento de hibernação espiritual regresso. Conta coisas torcendo os dedos como se aquele momento estivesse à procura dos orifícios de contas para enfiar. Mas conta coisas e ri-se duma forma tão contagiante.
Que outros lhe contem estórias também o deseja como que procurando algo para aprender. A Bela-bela surpreende-nos sempre memo quando estamos habituados a ela e suas multiplas formas de criação que nos tocam fundo.
Confesso que há uma surpresa. A artista plástica que um dia encontrei agarrada às telas sem esperar está "hibernada".
Um dia fui visitá-la para lhe pedir um estarmos (como melientas vezes fiz) conversando, surge-me nas suas levíssimas mãos como algo colorido e transparente. Era um molho de pedaços de seda. As cores eram semelhantes ao arco-íris. Pego uma a uma e dou-me como algumas com um verde lindo "bailando" entre o espaço que nos separava. Era um verde  parecido com musgo que sem caule, cresce à beira dos rios e valas e que baloiça mesmo quando a água é soprada por corrente amena.
Enquanto giniuíscávamos  ia mostrando lindas peças de seda desainadas por ela: gravatas, cachecóis, da sua bela criação.
Devo dizer que fiquei feliz com o que vi, mas não resisti e perguntei pelas telas pintadas. O que vira antes mostrava já um compromisso sério com as artes-plásticas. Mas não me destranquilizei uma vez que, senti ter a Bela, descoberto um meio técnico e, diga-se em abono da verdade, mais rituálico. O seu atelier deixou de ter o cheiro de linhaça e da terebentina. O cheiro pairante no ar era diferente. A combinação das sedas engomadas mais a gutta nela vertida distribuia no ar uma espécie de essência. Efectivamente o atelier tinha sido "incumbido"  a uma nova união, arte sim, mas uma arte com novos mediuns. Toda a combinação de novos produtos, para este novo "metier", o cheiro exalado, não era para espantar almas, ma sim, um conjunto de cheiros para acalmá-las. 
Coisa espantosa, é quando, com a sua empregada "mamã Lilia", compartilha opiniões sobre o trabalho. As duas enchem o atelier de gargalhadas como duas "Va nkhoti" quando se encontram.
A Isabel, caminahndo segura para a mestria do trabalho com a seda, tem estas extraordinérias e particularidades ímpares. 
Como recusaria eu a honra em balbuciar algumas coisa sobre ela, uma já de facto artista multifacetada, que nem deixou o teatro em paz?
Confesso que pesam-me na consciência, as lacunas existentes sobre a Bela-bela. Não me é possível reunir materiais, do que devia dizer sobre o que conheço há um par de dezenas de anos. 
Um apelo vai ao observador visitante desta mostra para tecer opiniões mais elucidativas.
Daí nascerão novos horizontes que qualquer artista deseja para chegar ao pico do mais alto coqueiro.

MALANGATANA NGWENYA | 1995


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