Quem vê os teus trabalhos iniciais e os compara com os mais recentes certamente sente as diferenças. As tuas peças já não são meras (embora belas) captações do real ou breves snapshots onde encontravas um simbolismo subjacente. Hoje elas passaram a um nível mais conceptual, mais "pensado", apontando mais ao ser humano e a sua relação com o mundo e as coisas.
Tens usado o corpo humano, rostos e membros como material e, através da mente, produzes imagens que a lente regista - imagens que espelham alguns problemas da civilização moderna, abrindo espaço a uma reflexão sobre a condição humana.
As imagens anteriores dos corpos e sombras representam, para mim, um interface entre os domínios público e privado: um género de real/irreal, o preto e o branco contrastando-se tal como a relação entre presença e a ausência. As peças "MET(AMOR)FOSE" e "RESTO DE ALGUÉM QUE JÁ NÃO É NINGUÉM" podem explicar isto um pouco melhor: o contacto é directo e estabelece um "face-to-face" onde espectador enfrenta, na imagem, o rosto desfocado de uma outra pessoa, ao mesmo tempo que percebe a outra presença - a da câmara que viu o objecto primeiro e é parte essencial da acção. Talvez até a principal: aquilo que Roland Barthes chama de «punctum»; a parte mais relevante e mais oculta da fotografia. Por outras palavras, aquele momento que se sente sem se ver: neste caso, o teu olhar retribui o outro olhar (que é olhado e que também olha) enquanto desenha o trajecto pelo qual o artista se vê a si próprio.
Esta trilogia de "máscaras" desfocadas, talvez desmaterializadas, conduzem o público a um mimetismo emocional, levando-as para uma dimensão de sinceridade com elas mesmas. É assim como um género de introspecção resultante da tensão que as imagens transmitem.
Parabéns pela "inquietude poética" desta série, Daniela.
Depois do «ensaio» do Miguel, have- rá pouco para dizer, mas começo por chamar a atenção, mais uma vez, para o lado pureil dos títulos.De- pois, observando as fotografias, a metamorfose, aqui, não corresponde a ninguém. Esta espécie de traves- timento do humano, insinuando mis- térios em danças líbias, obriga-nos a aguardar a decifração da máscara, o mistério e a liturgia não se de- negam com essa simplicidade
2 comentários:
Quem vê os teus trabalhos iniciais e os compara com os mais recentes certamente sente as diferenças. As tuas peças já não são meras (embora belas) captações do real ou breves snapshots onde encontravas um simbolismo subjacente. Hoje elas passaram a um nível mais conceptual, mais "pensado", apontando mais ao ser humano e a sua relação com o mundo e as coisas.
Tens usado o corpo humano, rostos e membros como material e, através da mente, produzes imagens que a lente regista - imagens que espelham alguns problemas da civilização moderna, abrindo espaço a uma reflexão sobre a condição humana.
As imagens anteriores dos corpos e sombras representam, para mim, um interface entre os domínios público e privado: um género de real/irreal, o preto e o branco contrastando-se tal como a relação entre presença e a ausência. As peças "MET(AMOR)FOSE" e "RESTO DE ALGUÉM QUE JÁ NÃO É NINGUÉM" podem explicar isto um pouco melhor: o contacto é directo e estabelece um "face-to-face" onde espectador enfrenta, na imagem, o rosto desfocado de uma outra pessoa, ao mesmo tempo que percebe a outra presença - a da câmara que viu o objecto primeiro e é parte essencial da acção. Talvez até a principal: aquilo que Roland Barthes chama de «punctum»; a parte mais relevante e mais oculta da fotografia. Por outras palavras, aquele momento que se sente sem se ver: neste caso, o teu olhar retribui o outro olhar (que é olhado e que também olha) enquanto desenha o trajecto pelo qual o artista se vê a si próprio.
Esta trilogia de "máscaras" desfocadas, talvez desmaterializadas, conduzem o público a um mimetismo emocional, levando-as para uma dimensão de sinceridade com elas mesmas. É assim como um género de introspecção resultante da tensão que as imagens transmitem.
Parabéns pela "inquietude poética" desta série, Daniela.
Um beijo e o amor. Sempre.
Miguelbanzadoeteu
Depois do «ensaio» do Miguel, have-
rá pouco para dizer, mas começo por chamar a atenção, mais uma vez,
para o lado pureil dos títulos.De-
pois, observando as fotografias, a metamorfose, aqui, não corresponde a ninguém. Esta espécie de traves-
timento do humano, insinuando mis-
térios em danças líbias, obriga-nos
a aguardar a decifração da máscara,
o mistério e a liturgia não se de-
negam com essa simplicidade
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