domingo, maio 08, 2011

A PUREZA NÃO EXISTE



1 comentário:

Miguel Baganha disse...

Na deriva da procura pela chamada "Arte Moderna" muitos foram os argumentos utilizados por artistas e estetas, demonstrando e defendendo os seus conceitos de forma diversa.

O "Formalismo", estirpe mais conhecida desta interminável procura, destaca a "pureza" da arte, e atingiu um grande pico com os ensaios de Clement Greenberg. A outra posição crítica, ele afirma: «não é tão familiar para nós, hoje, em parte porque ela estava assaz ofuscada pelo "pensamento formalista" no período pós-guerra». Esta posição enfatizou a importância da "experiência" com a "pureza formal". A procura, ou luta, pelo "Modernismo" veio, enfim, reacender essa vela apagada, iluminando o ideal de vanguarda, década a década, até à actualidade.
Muito mais do que uma disputa estética obscura, ou forma de combate político/social este desbravar sempre foi, para o artista, uma batalha sobre os próprios termos e limites adequados para a "arte em si", competindo e procurando por uma afirmação pessoal, por uma espécie de "lugar ao sol", onde o conceito se tornou múltiplo, e se estendeu por todo o caminho até à viragem do século XX. Actualmente, a definição de arte já não está restrita como um empreendimento exclusivo auto-referencial, presa a formalismos convencionais determinados por pensamentos ditatoriais que tanto e por tão grande tempo castraram o artista.
A Pintura não foi, nem será nunca, ultrapassada pela Fotografia mas esta última viu, no início do século XX, o seu espaço de manobra ampliar-se em larga escala, onde as galerias de topo abriam as suas portas para certos "operadores de imagem" desejosos de mostrar ao mundo a sua perspectiva sobre "as coisas na arte e a arte nas coisas".
Quebradas as fronteiras que separavam a Fotografia da arte, e os determinismos estúpidos que remetiam o amador (auto-didacta) para um plano de quase insignificância (Roland Barthes foi um dos grandes defensores do amadorismo na Fotografia), este meio de expressão artística encontra-se, hoje, num lugar mais digno do seu valor, da sua verdade, da sua existência - nas palavras de Roland Barthes:«O que a fotografia reproduz ao infinito só ocorreu (na realidade) uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente.»

Examinados alguns aspectos históricos e decisivos da arte, resta referir que as tuas criações, Daniela, passaram, inevitavelmente, a fazer parte da tal procura, movimento ou luta (isso é visível na evolução do teu percurso artístico), tão fundamental para manter viva a ideia de que, afinal, nada se descobriu: pelo contrário, tudo está ainda por se revelar. O teu presente trabalho (e outros para trás) continua a fornecer informações importantes,a desbravar caminhos, além de suas funções imediatas, para que a avaliação da arte contemporânea continue também a redescobrir-se e fugir assim ao discurso crítico paradigmático, tão influenciado pelo modo como as pessoas pensam e agem na sociedade actual.

A «Pureza Não Existe»: é um facto. O Branco, propriamente dito, também não existe: não sendo ele cor em si, também não é ausência - ele é simplesmente a "cor da luz", tão puramente uma mera junção de todas as cores. Este aparente imperativo crítico, não pretende ser um silogismo mas sim uma tentativa de desenhar a minha própria interpretação conduzida pela belíssima série que nos apresentas aqui, Daniela.

A tua/minha luta situa-se dentro do avant-garde, contornando a sequência e seguindo o trilho da inovação (tanto quanto possível), sobre a qual as ideias ou manifestações plásticas de agora irão alimentar a razão da procura das gerações futuras dos artistas. Em certo sentido, isto é uma verdade, e tal como Picasso um dia disse: «a arte é uma forma de combater». Uma batalha interminável, enfim, contra nada e a favor de tudo: sobretudo pelo sobrevivência do espírito criativo do Homem.


"BRANCO, A PUREZA NÃO EXISTE": é um facto. Mas tu existes, e eu amo-te.

Beijo-te muito, She.
Eusempreteu