segunda-feira, dezembro 29, 2014


LONGE é um filme de carácter existencial, que nos conduz através de um personagem, por e para espaços e tempos diferentes, onde a incessante procura ou questionação da razão de ser acontece ao longo de um passeio introspectivo, dicotómico, assim uma espécie de diálogo entre o Ser e o Nada. 
Há derivas esboçadas na memória de certas distâncias, dos ecos perdidos, das ruínas onde ainda florescem plantas ao lado de árvores meio secas. Lugares inomináveis onde a água abandonada ainda desliza, tornando-se melódica ao cair algures, passando pelas pedras e por dentro de bolsas de folhas humidificadas. Para tudo isto se sentir, numa vivência talvez lassa, há um homem, personagem que não é ninguém, molha as mãos na água entre caminhadas diferentes e semelhantes, e a sua voz não passa pela garganta, é mais uma voz da consciência, vivendo nos nossos olhos, murmurando um texto de grande carga poética. O homem é-nos dado a ver deste modo, em pausa junto da água, passeando pelo jardim e olhando o indizível a montante, talvez para se lembrar da vida antes de tomar consciência de que morreu «para si próprio». E, contudo, é uma marca da vida. Pura transição. Por fim, um “travelling à frente” segue-o com uma nitidez inusitada: agora ele vive de outra forma, dentro de si, e no nosso olhar, afasta-se para longe, sabendo porventura para onde, para lugar nenhum, lugar sempre, apesar de tudo, «como quem soube o paradoxo da verdade em que nasceu».

FAR is a film of existential nature, leading us through a character, by and for different spaces and times, where the incessant demand or questioning of the Reason of Being happens over an introspective ride, dichotomic, as a kind of dialogue between Being and Nothingness. 
There are drifts outlined in memory of certain distances, of the lost echoes, in the ruins where still flourish plants alongside trees half droughts. Unnameable places where the abandoned water still slides, becoming melodic when it falls somewhere, passing in the rocks past and on the inside of the bags of humidified leaves. To feel all of this, perhaps in a lax living, there is a man, a character who is nobody, who wets his hands in the water between different and similar hikes, and his voice does not pass through the throat, it's more a voice of the conscience, living in our eyes, murmuring a text of great poetic charge. The man is given us to see like this, paused nearby the water, strolling through the garden and looking to the unspeakable upstream, perhaps to remember life before takes consciousness that he died «for himself». And yet, it is a mark of life. Pure transition. Finally, a “tracking shot ahead” follows him with unusual sharpness: now he lives otherwise, within himself, and in our look, moves away far, perhaps knowing to where, to nowhere place, place always, despite all, «as who knows the paradox of truth in which was born».

Ficha Técnica:
Filme (Realização/Câmara/Edição): Daniela Rocha
Personagem e Voz off: Miguel Baganha
Poemas: Ruy de Portocarrero
Música: “All Angels Gone” | Stephan H.
Duração: 8`
Ano: 2013

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