sexta-feira, julho 25, 2008

AVES EM MEUS OMBROS


Sinto
Que a infância das aves
É mais um pesadelo
Para mim.

Ó Deus...
Se é que existem
Aves de verdade,
Porque não pousam elas
Em meus ombros,
Quando em meus olhos
Há àgua para beber?...

( Ruy de Portocarrero - hora interrompida )

3 comentários:

vida de vidro disse...

Da beleza e significado das palavras à expressividade das tuas fotos. Preto e branco dramático. **

Miguel Baganha disse...

Danielaminha,
como já vem sendo teu hábito nas peças recentes, mais uma vez colocaste nestas duas fotos um ênfase poético. Elas estão também relacionadas com o aspecto teológico, só possível pela harmonia do raccord imagem/poema.

As tuas fotos contam uma história, onde a sintaxe gráfica é quasi-sempre de qualidade cinemática.
A narrativa é linear, mas se lermos com mais atenção, vamos reparar que existe uma estrutura complexa: por detrás deste lirismo encruado, revela-se um tratamento crítico nos códigos culturais e consequentemente no conceito perceptivo do espectador, desde há muito condicionados pelos media.

Neste caso: O pavão,(qual Deus no cimo do Olimpo) atento e expectante, que espera do alto de um plinto pela sua fêmea, ansioso voraz por se exibir majestosamente com sua cauda multi-cor e em seguida colmatar em mais uma conquista - também o homem que abre a sua opulência material, absurdamente colorida, usando-a para cortejar e conquistar numa dança frenética, desmedida e de consequências emocionalmente castradoras por pensar que era eterno. O mesmo homem,«HOJE» -velho, seco e abandonado- chora de arrependimento ignorando a razão de as " aves de verdade "-CASO EXISTAM- não poisarem em seus " ombros ", quando em seus " olhos há água para beber ".

As imagens fornecem geralmente uma rica fonte de emoções.Mas as tuas fotos, Daniela; com a sua estética especial são portadoras de um vocabulário icónico que revelam o lado cínico e por vezes irónico dos problemas socio-culturais.

Quanto à parte técnica destas duas ambivalentes(nascimento/morte, aceitação/rejeição, amor/ódio) fotos: essa resume-se um p&b clássico, registadas de ângulo contra-picado, sublinhando a peculiaridade do teu olhar.

Na minha opinião, a peça resultaria melhor ainda, se tivesses invertido a ordem das fotografias.
Em todo o caso, considero de relativa importância este último ponto quando comparado com a excelência da teologia moral subjacente.

Parabéns, Danishe!

Um beijo enorme, do sempre teu e que te ama MANINGUE,

Miguel

P.S. Até já ;-)

Rocha de Sousa disse...

O hino gótico do poeta parece ver-
dadeiramente repoirtado à identida-
de destas duas fotografias, ruina, vida, asas protas as partir, ou chegando, bichos próprios para enriquecer a nostálgica ornamentalidade do manuelino das pedras. A coisa perdida renasce, de
algum modo, e o gótico é apenas uma pérola de sucesso quando o nosso povo navegava e fazia mudar a história.
Resta-nos a pose, entre a vida e a ruína.
tio